Ainda estava inconsciente quando senti as primeiras queimaduras. Sem forças para abrir os olhos rolei para o lado e pude perceber neste momento de extrema agonia que o chão estava queimando por algum motivo. Levantei com muito esforço, pois as queimaduras de minhas costas haviam me enfraquecido. Mas agora eram meus pés que assavam no chão….o chão….estava em brasas. Disparei-me a toda velocidade antes de perceber que não haviam direções. Estava tudo devastado. Eram apenas cinzas e fogo. Ao correr, quase sem forças, pude perceber de que além das queimaduras em meu corpo havia um destroço de metal atravessado abaixo de minha clavícula. Meu corpo queria desligar-se, mas eu sabia que se caísse naquele chão novamente não levantaria mais.
A cada passo que dava alguns pedaços de carne de meu pé se desprendiam grudados ao chão. Pus-me a pensar o que havia acontecido, mas minha memória não me ajudava. Foi então que concluí que aquele era o inferno. Mas algo me incomodava. Meu inconsciente havia algo para dizer mas estava enganado.
Enquanto meus pensamentos andavam em círculos, meu corpo também começou a querer despencar. Não havia para onde ir. No horizonte infinito apenas devastação. Ajoelhei-me antes de avistar algo que me faria lembrar o que estava acontecendo. O fragmento de um poster que estampava a capa de um jornal, que queimava aos poucos por estar protegido por algum material envernizado, dizia: “Estamos próximos da terceira guerra mundial? Alguns especialistas alertam….”. O material inflamou-se e tornou parte da devastação. Em apenas um segundo após as primeiras palavras lidas tudo veio à minha cabeça. As emissoras de televisão tentaram avisar à população mundial da nova guerra que estava por vir, mas as bombas nucleares foram mais rápidas. Sentia agora a pele de meu rosto queimar em bolhas que ardiam em dor infinita, e uma sensação de destruição dentro de meu corpo me fez vomitar…. vomitar sangue. O gosto deixado em minha boca dizia que minha morte estava chegando. Olhando a poça de sangue no chão, com meus joelhos já sem carne lembrei-me dos últimos momentos que tive com minha família, quando ao infinito horizonte um cogumelo de fogo mostrou um espetáculo de alguns segundos, e agora aqui estou, derretendo e morrendo parte por parte, sofrendo além da dor da carne, uma dor desesperada no coração. As cinzas de minha família deviam estar espalhados por todo o meu corpo, por todo lugar que meu olhar pudesse avistar, e por todo lugar que a devastação pudesse alcançar. Foi o suficiente para que me desligasse desse mundo. Tudo se transformou em nada.
Era apenas a devastação.